terça-feira, 26 de outubro de 2010

Até logo meu querido...

OK! O blog foi feito pra eu escrever sobre o mestrado, sobre a vida em Paris, sobre trabalho, estágio, etc....Mas como ficar indiferente com um fato tão marcante em minha vida: a despedida do meu avô?
Ele partiu!Foi!Passou pro outro lado!Sublimou!
Eu fiquei... exatamente aqui... com a sensação de que faltou algo a dizer, um carinho pra fazer, uma palavra de gratidão.
Meu avô sempre foi meu amigo. Uma figura única, pessoa que tinha um amor enorme pela vida e uma vontade enorme de viver. Exigente! Sempre queria as coisas na hora e do jeitinho dele, enquanto não fazíamos o seu gostinho ele ficava injuriado. Usava boininha, era sãopaulino, gente boa, tomava um vinhozinho antes do almoço e era dengoso que só ele. Ah! Muito vaidoso também, penteava os poucos cabelinhos que lhe sobraram várias vezes ao dia e ainda passava creme pra não ficar com a pele seca, prá não rasgar, como ele dizia. Ele combinava cores na roupa. Meu avô tinha muitos amigos, era bom em matemática, comia dois filõezinhos com uma caneca de leite morno todas as manhãs. Meu avô ficou casado mais de sessenta anos com a minha avó, se aguentaram em muitas crises, mas estiveram sempre juntos e ele sempre dizia que amava ela. Meu avô tinha bom humor, sabia rir de piada, adorava um mal-feito e encasquetava com certas coisas de vez em quando.
Usava bengala!Quantas histórias dessa bengala.... Ligava no meu celular e perguntava quem tava falando quando eu atendia, só pra me fazer rir.... Ele ajudou muita gente... ele amou minha mãe.
Ele podia ter mil defeitos, ter cometido mil erros na sua vida, pode ter sido meio chatinho às vezes, mas não importa....porque ele foi um vôzãoooo. Ele se preocupava comigo, ele gostava da minha presença....ele nunca me julgou, ele me tirava pra dançar!
Meu avô era um querido, se de todas as funções que ele teve nessa vida, se alguma ele não cumpriu bem, eu não sei, o que eu sei é que ele foi um avô maravilhoso, um avô pai...presente, companheiro, delicado, discreto, educado, carinhoso, ele cumpriu maravilhosamente bem a sua função de avô.
Meu avô foi um homem bom!
Meu avô e minha avó me criaram ( velha história de pais separados que trabalham muito), dentro da casa deles eu vivi todas as minhas fantasias de infância. Eu e meus irmãos fazíamos da casa dos nossos avós o nosso universo lúdico: brincávamos de tudo....o lençol da cama deles pendurado no varal com pregadores foi desde cabaninha do índio até o castelo rá-tim-bum. O corredor do quintal foi escola, foi hospital, foi padaria, confeitaria, galáxia zodíaca, balão mágico, tapete voador, floresta amazônica, paraíso perdido...as massinhas que a vó fazia com farinha se transformavam em tudo, e o vô já foi de mágico a cobrador de ônibus nas nossas histórias. Será que isso pode voltar um dia?só um....
A vó fazia quitutes, a gente comia, se lambuzava...o vô dava folhas e mais folhas de papel pra desenhar, pra fazer continhas.... Depois a gente cresceu, e o carinho, e o cuidado, tudo continuou igual.
Por isso é tão difícil, entendem? Todo mundo diz: eles estavam velhinhos...a hora chega....é a vida....EU SEI! É óbvio que é o ciclo da vida... que eles estavam velhinhos, e tudo e tal....mas e tudo isso? E minhas raízes? E tudo isso que, se estou certa, posso chamar de AMOR PURO. Sem julgamentos, sem juízo de valor...simples assim, gratuito!

Posto este texto como um desabafo, como gratidão, como explicação, como que para ajeitar as gavetas que estão mal arrumadas dentro de mim.... ou ainda pra me despedir!
Posto porque não quero guardar!
E também pra dizer até logo....pq quando for a minha vez de partir, se eu puder escolher...é pra casa deles que eu vou. É lá que eu quero ficar!







sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Frantuguês ou Portuçais?

Eu estava aqui para escrever mais um post sobre mais uma aula do mestrado...
Vou me entregar dizendo que não tenho colocado tudo de cada aula, não tenho escrito a cada aula que tenho, como era a proposta inicial, confesso que não tem me sobrado muito tempo e o tempo livre eu durmo, ops, leio..... Por exemplo, não postei nada ainda sobre a disciplina que faço no INHA (Instituto Nacional de História da Arte), um lugar maravilhoso, que me dá muito tesão de ir todas as manhãs de quinta: não só pelo lugar, pelo “seminaire” que é muito interessante (“A farsa e o jogo burlesco”), pelo conteúdo que termina por ser divertido, mas também porque quando eu desço do metrô estou ao lado do Museu do Louvre, eu passo por dentro do Palais Royal, nos jardins, e depois diante do teatro do Palais Royal, e o Inha é na frente da biblioteca nacional... um lugar realmente muito lindo, cheio de história, que tem uma energia particular, e isso me faz lembrar que estou morando em Paris! E como pode ser uma cidade tão linda e tão oblíqua?
( Depois eu vou postar mais sobre o seminaire do INHA).
Ai ai ai...mas porque eu me desviei do meu post sobre a aula?
Ahhhhh, claro, porque comecei a rir sozinha das minhas anotações: uma frase começa em francês, tem o meio em português, termina em francês, não tem ponto final (pq não deu tempo). Depois em cima tem uma indicação de um assunto a buscar em português, no meio da outra frase, números e desenhos pra ilustrar, e se alguém se atreveria a dar uma olhadela nesses papeizinhos (sim, de um bloquinho de notas, pq eu não tenho caderno e não levo o computador pq é grande) iria no mínimo pensar que são códigos ou algo parecido. Será que todos os gringos anotam como eu?
Será que sou a única que não consegue anotar tudo bonitinho em um único idioma? Nossa isso aqui é uma bagunça que às vezes nem eu mesma entendo....
Vou contar também que tive a minha primeira orientação e a professora muito simpática me pediu pra eu escrever umas 20 páginas sobre um determinado assunto: claro Julia, disse eu!Vou refletir bastante e creio que já sei por onde seguir! Quando ela solta assim: “Tá certo me envia até domingo e nos falamos na segunda”. Eu nem respirava mais....Gente, menos de uma semana pra escrever 20 páginas em francês, sobre um determinado tema, ademais de trabalhar e de fazer todas as coisas necessárias da vida normal como, cozinhar, limpar, lavar roupas, supermercado, cortar unha, publicar no blog, hehehehe!Gente, pára....espera um pouquinho....
Faz duas noites que não durmo, tenho sonhos que me despertam suando, levanto pra anotar uma palavra, volto, redurmo, acordo pensando que já é segunda e não fiz nada e ainda que perdi o horário, aff...espero que isso passe e eu me acostume.
Será que alguém pode me dizer se isso passa?dar alguns conselhos? S´il tu plaît!

domingo, 10 de outubro de 2010

e?


É certo que ninguém, até agora determinou o que pode o corpo...
Espinoza
http://www.youtube.com/watch?v=IIBAaIb2goQ

O ator do século XVII...

Pois seguimos....
As aulas são longas e o tempo é curto...muitaaa coisa pra estudar, muita coisa pra pensar e pra ler....se eu conseguir ler tudo o que é “recomendado” em cada aula serei um geniozinho dentro de pouco tempo, mas é óbvio que não é possível (pelo menos não pra quem tem que trabalhar e estudar ao mesmo tempo). Mas aos trancos e barrancos vai!
Vou fazer um post rápido sobre mais uma aula do mestrado.
Bem, o tema do “seminaire” como já foi dito é “o ator e sua modernidade”, hoje, foi focado bem o ator “moderno”, ou então o ator do século XVII, e segundo os historiadores a modernidade começa com o final da Idade Média ( renascença) e vai até o final da revolução francesa em 1789.
destacamos como pensadores dessa modernidade: Descartes, Galileu, Newton...
Esse ator é um ator inédito. Não há como comparar com um ator antigo, que até então eram amadores, profissionais de outras áreas que se propõe a interpretar um papel.
O ator do século XVII passa a refletir em relação ao ofício de ator - constrói o método diante dos outros: propõe o tema, formula as hipóteses e tenta definir. Esse ator tem a sua importância na história porque foi justamente nesse momento em que a profissão de ator passa a existir efetivamente, e aí eles decidem organizarem-se em trupe e passam a fazer contratos registrados por escrivões notários para cada um de seus trâmites. Óbvio as coisas não foram tão simples assim e esses “atores” que começavam a pensar o ofício e a organizar-se em trupe, deixaram de ser mantidos pelo mecenato, e ainda tinham que pagar uma espécie de pedágio aos “confréres de la pasión” (organizações de artesãos que encontram uma oportunidade de ganhar dinheiro cobrando pedágio dessas trupes que vem apresentar-se em Paris). Em seguida, esses atores se rebelaram e em 1641, o rei Louis XIII escreve um documento que delibera: “L´acteur ne peut plus rester à blâme” (O ator não pode mais permanecer na censura), e legaliza a profissão de ator.
Richelieu foi o grande nome, o grande cabeça dessa legalização.
Nesse período fica muito evidente a influência da pintura no trabalho do ator poque ele interpreta ainda, através de códigos. Ele sabe que o ser humano ali retratado passou pelo “modo artístico”. O texto de 1863 de Baudelaire: “Le peintre de la vie moderne” é uma excelente fonte de compreensão dessa relação, embora a definição dele seja paradoxal, pois mescla o eterno e o transitório.
Existe também o uso intenso da retórica, e ainda da poética (como arte da escrita).
Para o ator do século XVII tudo é ligado ao trabalho, ao esforço e a insistência em repetir e ensaiar. Não existe para eles o modo gênio. O trabalho é feito com paixão, compreendendo que paixão é emoção que faz o ser humano vibrar e se repete em todo o sempre. Em verdade, esse ator não sabia muito bem como interpretar, mas ele sabia que não podia ser ele mesmo no palco. Não foi pensado nesse período em uma interpretação orgânica e natural. A base era a palavra.
As coisas mais simples do cotidiano não eram feitas em cena – assoar o nariz, tossir, espirrar, etc – também não se mostrava os seios, o nu, não se morria em cena, tudo por uma questão do nobre, de que o ator tinha que estar no mesmo patamar do público que vai assisti-lo.
O ator desse período é reconhecido como o espelho das pessoas que vão vê-lo. Eles mantinham relação direta com o público e não existia a quarta parede. Interpretavam utilizando todo o espaço e mantinham a fantasia, a ilusão, ganhando o público, que nesse período fazia questão de entregar-se a qualquer coisa de infantil e maravilhoso.
E por último, esse ator do século XVII, estabelecia uma espécie de ligação entre a cosmogonia ( o grande) e o teatro, o social ( o pequeno).
Michel Foucalt escreveu que o ator fabrica no teatro as coisas que os outros fabricam na vida. Ele é uma abertura, um lugar de passagem que permite pensar o mundo presente.

Um pouquinho denso, mas bastante interessante!