Tive minha primeira aula do mestrado e estou, simplesmente, embasbacada, ou, boquiaberta, queijo caído... O nível da discussão para cada tema proposto é altíssimo e a liberdade de pensamento e de reflexão foi realmente algo que me tocou.
Essa aula me pegou de jeito e me fez compreender que eu estava ali porque deveria estar. Sabe quando você se sente pleno onde está?
O nome da disciplina é “O ator e sua modernidade”, daí pode-se compreender muitas coisas, desde uma maneira “moderna” de interpretar, de uma maneira atual, ou ainda refletir no que vem por trás dessa proposta. Por exemplo: o que quer dizer ser do seu tempo?
Caminhamos então para um debate sobre as formações de atores: será possível formar um ator em uma escola? Será que as escolas ensinam os suficiente para uma pessoa para que ela se torne artista? Será que esse processo de aprendizagem necessariamente se faz dentro de uma escola? As pedagogias de formação de atores são suficientes? (Nesse momento é óbvio que foi proposto ler o Copeau, ehehehe)....
O que tem um ator moderno que não tem um ator tradicional?
Analisamos o jogo do ator da seguinte maneira:
- Voz e gesto;
- Emoção (a sua própria e a que ele provoca no espectador)
- Tempo, história;
Um ator necessita fazer-se presente! Não falo de mostrar-se, de aparecer...
Interessante que o debate virou-se para algumas características importantes: o ator necessita da capacidade de fazer-se presente, de um dom, de “viver plenamente” o momento, (e aqui poderíamos ler um pouco sobre o trabalho de energia extra-cotidiana do LUME).
Propuseram ler a proposta pedagógica de Vassiliev, que conheço muito pouco ainda, e, quase óbvio, chegamos às ações físicas de Stanislávski!!! E na idéia comum de que são as ações que fazem o ator presente.
Passamos ao ponto que um ator quando consegue ser uma caixa de ressonância do mundo que ele está (universo do espetáculo, e sociedade como um todo), então ele é vetor de uma modernidade.
Mas espera: o que é a modernidade?
A modernidade corresponde ao período entre 1453 e 1789, ficou conhecida como a era da razão, foi o fugitivo, o transitório o contagiante, uma definição estética. Na filosofia o ícone é Descartes; termina com a revolução francesa e a chegada de um estado centralizado e burocrático. Et alors?
Fazendo um paralelo, percebemos que o Brasil foi “descoberto” em 1500, em plena modernidade da Europa. Se me permitem sugiro o texto do Rembaud “Uma estação no inferno”, que levanta uma questão polêmica e crítica da modernidade.
É necessário permitir-se conhecer a modernidade para compreender a contemporaneidade.
Seguimos para um debate sobre o romantismo e foi sugerido ler Baudelaire e sobretudo o que ele escreveu sobre o pintor Delacroix, em que ele reconhece como um verdadeiro artista moderno. Ma estamos falando da modernidade “era moderna”, ou do termo moderno? Creio que as duas coisas....
Bom, creio que já deu pra ter uma idéia desse “seminaire”, da riqueza das propostas de reflexão, do nível dos debates e, também, da trabalheira que tenho e terei daqui pra frente...leituras, leituras e mais leituras, buscas estudos, escrituras (afinal terei que apresentar um trabalho de 25 páginas redigidas em francês em dezembro). Óbvio não pude citar e contar tudo o que foi falado, afinal foram 3 horas de aula e eu resumo em poucas palavras pra que vocês possam acompanhar um pouco comigo, e, se querem, os convido a mergulhar nessas buscas... elas são realmente interessantes, pra quem gosta!
E sendo assim, nem a chuva que me pegou de cheio nessa manhã conseguiu tirar meu bom humor...